
Romperam, na passada quarta-feira 05 de Março, mais duas represas de retenção de resíduos de mineração da empresa transnacional Ding Sheng Minerals, em Chibuto, província de Gaza, inundando e poluindo toda aquela região e causando mais uma morte. É absolutamente chocante a inacção do governo perante o comportamento criminoso da mineradora.
A Justiça Ambiental (JA!) tem estado a trabalhar em estreita colaboração com as comunidades afectadas pelas actividades da Ding Sheng Minerals em Chibuto, devido às inúmeras queixas destas contra a empresa, particularmente no que se refere aos impactos no meio ambiente e nos meios de subsistência da população, e ao potencial perigo que as represas de retenção de resíduos representam para as comunidades e meio ambiente. Perante esta situação, a JA! visitou o local, e alertou o Governo local para a necessidade de proceder com urgência a uma avaliação do perigo eminente das represas de retenção de resíduos por estas não reunirem as mínimas condições de segurança. Apesar dos alertas e pedidos de intervenção, nada foi feito, nem pela empresa nem pelo governo local e em Novembro de 2023, rompeu uma das represas de retenção de resíduos, causando danos imensuráveis. Ao romper a represa de retenção, libertou as águas residuais de forma brutal, tendo destruído todas as machambas destas comunidades que encontrou no seu caminho, e as comunidades perderam toda a sua produção, para além da contaminação dos solos, da lagoa Nwanhagumbe, local onde as comunidades locais praticavam a pesca e extraíam caniço para construção de casas e venda, e lagoa Ndzembelene, onde extraíam material para fabrico de esteiras.
A JA! solicitou autorização ao governo para proceder à recolha e análise de amostras de lama, para verificar que potenciais poluentes estariam presentes, mas o pedido foi prontamente recusado pelo governo, apesar do mesmo confirmar que não iria proceder à amostragem e análises por não ter condições para tal.
Em Março de 2024, rompeu mais uma represa, novamente as comunidades viram as suas áreas alagadas. Lamentavelmente, apesar das várias denúncias tanto das comunidades como da JA! nada foi feito, pois os únicos prejudicados são as comunidades locais. A empresa continuou a operar, o governo local continuou a ignorar os impactos e as queixas das comunidades. Este desinteresse e desvalorização da situação destas comunidades por parte do governo e da empresa levou a que as comunidades continuassem a protestar e a exigir compensação pelos danos, mas acima de tudo que sejam tomadas medidas concretas para que nunca volte a acontecer, mas estas reivindicações só levaram a detenções arbitrárias e ilegais, actos de intimidação levados a cabo pela PRM contra as comunidades e quem quer que defendesse as mesmas, e a empresa continua a operar como se nada tivesse acontecido, total impunidade (para mais informação assista: https://www.youtube.com/watch?v=16U02nsKQLs).
Continuamos a ampliar as reivindicações e reclamações das comunidades e a exigir compensação pelos danos, e reforço das medidas de segurança das demais represas para que incidentes similares não voltassem a acontecer, mas nada foi feito em defesa dos direitos das comunidades. Pelo contrário: são tratadas como vândalos quando reclamam os seus direitos.
No dia 04 de Março de 2025, durante a noite, rompeu mais uma represa de resíduos da Ding Sheng Minerals e no dia seguinte, 05 de Março por volta das 12h00, rompeu mais uma. Portanto, romperam duas represas de retenção de resíduos em menos de 24 horas. Não há ainda informação completa do enorme impacto ambiental e social na zona de Mudumeia e no Rio Nwanhagumbe, desde já é possível ver a extensa área alagada pelas lamas contaminadas da Ding Sheng Minerals, que deixou as famílias afectadas sem nenhuma outra alternativa para sua subsistência, pois as pequenas áreas onde as famílias faziam as suas machambas, as que tinham escapado nos dois primeiros incidentes ocorridos no ano passado, estão agora debaixo da lama. Lamentavelmente, desta vez, as lamas arrastaram consigo o responsável da Ding Sheng pelas represas de retenção, um indivíduo de nacionalidade chinesa. As actividades da empresa foram imediatamente paralisadas para proceder ao resgate do mesmo. É de lamentar a perda de vidas, e enquanto JA! respeitamos e valorizamos toda a vida humana da mesma forma, mas não podemos deixar de perceber e nos indignar perante a enorme disparidade na reacção da empresa, pois nos incidentes anteriores não houve qualquer paragem de actividades ou sequer interesse em apoiar os membros das comunidades que perderam tudo. Será que a vida deste indivíduo vale mais que a vida dos membros da comunidade?

Na quinta-feira, 6 de Março, a empresa Ding Sheng contactou 17 pescadores locais, para procederem a uma operação de resgate do indivíduo arrastado pelas lamas, uma operação de risco, pois envolveu mergulhar na lama e no rio, em busca do corpo do cidadão chinês arrastado no dia anterior. Segundo as comunidades, a empresa ofereceu uma recompensa de 500 mil meticais a quem encontrasse o corpo, mas ao fim de 11 horas de buscas não houve sucesso. E cada pescador recebeu 1000 meticais pelo seu trabalho.
Na sexta-feira, dia 7 de Março, as buscas continuaram com os mergulhadores do Serviço Nacional de Salvação Pública (SENSAP), mas também não tiveram sucesso. Já no sábado, a Ding Sheng decidiu apelar às lideranças tradicionais para que ajudassem na localização do corpo, e foi realizada uma cerimónia tradicional de evocação dos espíritos no local da tragédia, para se tentar localizar o corpo. Poucas horas após a cerimónia tradicional, o corpo foi encontrado a flutuar na lama. A liderança tradicional não perdeu a oportunidade para mais uma vez alertar aos senhores da Ding Sheng que se continuarem a operar desta forma, o pior irá acontecer.
A empresa Ding Sheng Minerals tem que ser responsabilizada civil e criminalmente pelos incidentes, morte e danos causados pelos mesmos, da mesma forma que o governo local e as instituições governamentais relevantes como a AQUA e o Ministério da Terra e Ambiente que tem a obrigação e o dever de velar por estas questões e uma vez mais nada fizeram para evitar estes incidentes, nem tão pouco para responsabilizar a empresa.

Basta de impunidade, Basta!
A luta continua!