Teve lugar no passado dia 15 de Junho a cerimónia de inauguração da Casa de Sementes da Associação ANRAN, um projecto em parceria com a Justiça Ambiental. A cerimónia contou com a participação de vários membros da associação, da direitora e técnicos da Justiça Ambiental e representantes das estruturas do governo local. O Sr. Rafael Langa, presidente da ANRAN e a Sra. Anabela Lemos Directora da JA! procederam ao corte da fita e inauguração num ambiente de festa, lembrando aos presentes que a inauguração da casa de sementes é apenas o primeiro passo, que há ainda muito trabalho pela frente.

Logo de seguida, Anabela Lemos, plantou uma muda de litchi produzida pela própria associação.

A inauguração da Casa de Sementes representa o início de um longo processo de resgate dos sistemas tradicionais de gestão de sementes nativas, que se pretende seja activamente promovido pelos próprios camponeses da Namaacha.

Os sistemas tradicionais de gestão de sementes contribuem para o alcance da soberania alimentar, reduzem substancialmente os custos de produção, asseguram a diversidade biológica e garantem que as sementes que vão sendo escolhidas e reproduzidas são as melhor adaptadas às condições locais. Os sistemas tradicionais de gestão de sementes constituem uma das formas de preservar a cultura alimentar de um povo, e perante a actual crise climática global é uma das alternativas mais viáveis de produção alimentar diversa e com qualidade. No entanto, em Moçambique muito deste rico conhecimento tem sido abandonado ao longo dos anos, seguindo uma falsa narrativa de que as sementes produzidas e tratadas de forma industrial é que produzem mais e melhor, uma narrativa largamente promovida pelas grandes corporações que controlam o mercado global de sementes, e facilitada pelos governos ofuscados pela ideia do lucro. As famílias camponesas tem sido aliciadas a aderir a estas novas variedades e tecnologias, com constantes “ofertas” de modo a criar assim a dependência pelas sementes compradas, que pouco depois requer ainda a adição de fertilizantes e herbicidas, que é muito convenientemente produzido e distribuido pelas mesmas corporações, e assim aos poucos, ano após ano, o camponês perde a sua independência e esquece que já houve o tempo em que as sementes não eram vendidas em pacotes selados e carregadas de quimicos, eram trocadas, cedidas e passadas de geração em geração.

A luta continua!

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