Já são 28 anos de COPs climáticas, de conversas ocas sem os compromissos necessários, enquanto as emissões continuam a aumentar e os países do sul global, como Moçambique, vão sofrendo os impactos desta crise. Este ano, em meio a uma profunda crise humanitária e de humanidade, devido ao genocídio em curso em Gaza, e em total solidariedade com o povo da Palestina, a Justiça Ambiental junta-se a outros movimentos sociais em completo boicote à COP28 a decorrer no Dubai.

Precisamos de reconhecer também que a hipocrisia das negociações climáticas alcançou um nível sem precedentes. Uma COP a decorrer num Petro-Estado que comete crimes de guerra, cuja reputação de Direitos Humanos é arrepiante, a ser presidida por um barão do petróleo cuja companhia tem planos de aumentar a exploração de combustíveis fósseis, não poderá, de maneira nenhuma, avançar em direcção às soluções que precisamos.

É uma COP na qual as empresas transnacionais do agronegócio pretendem re-definir os sistemas alimentares e acomodá-los aos seus interesses de lucro. É uma COP na qual as falsas soluções como o REDD+, os mercados de carbono, as soluções baseadas na natureza, continuam a ganhar força ao invés de serem reconhecidas uma vez por todas pelo que são: uma perigosa distracção. É uma COP na qual projectos que emitem metano, como o gás e as mega-barragens, são promovidos como se fizessem parte de alguma transição justa. É uma COP que bateu o recorde do ano passado – que por sua vez já tinha batido o recorde do ano anterior – do maior número de lobyyistas da indústria dos combustíveis fósseis.

O facto de haver, ano após ano, mais representantes da indústria de energia suja do que dos Estados mais afectados pelas mudanças climáticas, tem surtido os seus efeitos. Um dos exemplos desta influência foi no Acordo de Paris em 2015. O Artigo 6 deste acordo instituíu um sistema de troca de créditos de carbono, que há muito tempo era uma das principais propostas da indústria.

Não percamos de vista, também, o interesse de Israel nestas negociações. A COP28 é mais um elemento da sua estratégia de distrair o mundo do genocídio que perpetra contra o povo Palestino, com apoio e armas dos Estados Unidos. A convite dos Emirados Árabes Unidos (EAU), Israel envia uma grande delegação para Dubai, que inclui representantes das suas principais empresas de combustíveis fósseis. Além de energia suja, Israel vai promover em Dubai uma série de tecnologias que foram desenvolvidas e testadas graças à opressão e exploração do povo e terra Palestina.

Recusamo-nos a contribuir para legitimar ou branquear este espaço.

Pelo contrário, continuaremos em mobilização com movimentos por todo o mundo, como na Conferência Social da Terra, a debater os caminhos para a transição energética justa nos espaços legítimos para tal, onde as comunidades afectadas é que definem a agenda, e não os criminosos climáticos. Continuaremos a lutar pela Yasunização dos nossos territórios. Continuaremos unidos e em solidariedade com todos os povos que lutam pelo direito a dizer NÃO a projectos extractivistas. Continuaremos a exigir que os países industrializados paguem a dívida climática aos países do Sul – mas que este financiamento não seja para benefício das nossas elites económicas e políticas. Continuaremos a apoiar e amplificar soluções reais para a crise climática –a agroecologia, a gestão florestal comunitária, a energia limpa, descentralizada e de posse comunitária. Estas soluções já estão a ser implementadas em todo o mundo, por aquelas e aqueles estão na linha da frente dos impactos das mudanças climáticas.

A luta continua, contra as companhias e os governos que branqueiam o apartheid de Israel e promovem soluções falsas para a crise climática.

A luta continua, movida pelos princípios da justiça climática, em defesa dos nossos recursos e territórios, e em total repúdio ao colonialismo climático que infesta os pavilhões e corredores da COP28 no Dubai!

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