Celebra-se hoje, 21 de Setembro de 2024, o Dia Internacional de Luta contra as Plantações de Monocultura de Àrvores! Neste dia, denunciamos, publicamente, uma vez mais, os inúmeros e graves impactos das plantações industriais na vida das comunidades rurais incluindo os seus meios de subsistência e nos ecossistemas de que dependem directamente. 

Ano após ano trazemos as denúncias e queixas das comunidades afectadas… ano após ano demonstramos o quão evidente são os impactos negativos na vida da grande maioria dos afectados, e que a “vida melhor” prometida tanto pelas empresas como a Portucel e a Green Resources bem como pelo nosso Governo, serviu apenas de discurso para enganar as comunidades a cederem as suas terras! O discurso “vazio” de “desenvolvimento” que impulsionou a usurpação de terras comunitárias para dar lugar às plantações ficou esquecido nesse momento, resta apenas a memória e a mágoa das inúmeras famílias camponesas enganadas deliberadamente! Algumas ainda acreditam que as empresas vão cumprir com as promessas feitas, vão construir as tais escolas, pontecas, hospitais e que vão eventualmente ter os tais empregos que vão mudar as suas vidas. Alguns nem tão pouco percebem que todas essas promessas são na verdade responsabilidades do Governo Moçambicano, e que são as mesmas promessas feitas em todas as campanhas eleitorais, e pouco ou nada acontece de facto! 

As denúncias, apelos e queixas das comunidades afectadas e das organizações e movimentos sociais tem sido largamente ignorados ano após ano, pelas várias instituições do Estado responsáveis por velar pelos interesses do Povo! 

Este ano, celebramos este dia num contexto muito diferente dos anteriores, em plena Campanha Eleitoral! Foi exatamente para fugir a este contexto, que levamos a cabo o nosso Encontro Internacional Contra Plantações de Monocultura, em celebração ao dia Internacional de Luta contra as plantações de monocultura, nos dias 22 e 23 de Agosto. 

O encontro decorreu na Província de Manica, e neste participaram membros de comunidades directamente afectadas por plantações das empresas Portucel, Green Resources e Mozambique Holdings, provenientes das Províncias de Manica, Zambézia e Nampula, bem como membros de comunidades Quilombolas do Brasil igualmente afectados por plantações. O objectivo do encontro foi promover o intercâmbio entre comunidades afectadas por Plantações de Monocultura e levar a cabo visitas a algumas  comunidades afectadas, para perceber no local os impactos das mesmas. Não vimos desenvolvimento algum, não vimos melhoria de condições de vida, vimos sim plantações de eucalipto, que enriquecem empresários estrangeiros, onde antes viamos machambas para alimentar o povo. 

Neste encontro, organizado em parceria pela Justiça Ambiental, Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais, Missão Tabita e AJOCME, voltamos a ouvir e a sentir o enorme impacto negativo que estas plantações tem na vida das comunidades! Relato após relato ouvimos como foram enganados, como estão arrependidos de ter acreditado, percebemos o sentimento de desespero e angústia perante a nova realidade. 

“Tudo que a empresa fez até hoje, não compensa o que perdemos ao ceder as nossas terras” – Afectada pelas plantações da Portucel Moçambique, Província da Zambézia

“A empresa chegou com muitas promessas, escola, hospital, mas nada aconteceu e agora nem nas baixas conseguimos produzir bem, porque essas árvores estão a secar a nossa água” – Afectada pelas plantações da Portucel Moçambique, Província de Manica

“Fomos enganados por não saber nada, chegaram com muitas promessas, aceitamos porque acreditamos que iamos ter vida melhor, prometeram arranjar estrada, escola e hospital. Nem pagar as compensações pela nossa terra, outros receberam pouco outros não viram nada. Agora a nossa luta é grande mesmo, recuperar as nossas terras para a prática da agricultura, porque somos camponeses, é só isso que fazemos” – Afectado pelas plantações da Green Resources, Província de Nampula. 

Instamos o Governo de Moçambique a rejeitar todas as falsas soluções para o clima e o bem estar, como os projectos de créditos de carbono, e investir esforço e recursos no apoio à agricultura camponesa para produção alimentar diversificada e de qualidade através da agroecologia de modo a assegurar a soberania alimentar; instamos o Governo a promover e a facilitar as iniciativas de base comunitária para geração de renda e para conservação dos nossos recursos naturais e tão importantes ecossistemas! Instamos ainda ao Governo, que proceda com a maior urgência a uma avaliação séria e imparcial aos impactos sociais, ambientais e económicos das plantações industriais que tanto promoveu e continua a promover, pois este irá demonstrar claramente que este modelo de plantação não funciona. 

Continuar a permitir e a promover falsas soluções vai agravar a falta de vontade política e de financiamento para a implementação de soluções reais, descentralizadas e baseadas nas necessidades, interesse e vontade do povo.

Plantações não são florestas! Plantações usurpam terra, recursos e modos de vida…

Solidarizamo-nos, hoje e sempre, com todos os povos e comunidades que resistem à usurpação dos seus territórios e modos de vida!

A luta continua

Por direitos, Por justiça, Por um Mundo melhor para tod@s!

21 de Setembro de 2024

​