URGE APOIAR PUBLICAMENTE O CASO DA ÁFRICA DO SUL CONTRA ISRAEL NO TRIBUNAL INTERNACIONAL DE JUSTIÇA PARA TRAVAR O GENOCÍDIO DO POVO PALESTINO

Maputo, 10 de Janeiro de 2024

Para: Ministra da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Sua Excelência Dra Helena Matias Kida

C/c: Presidência da República

Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação

Assembleia da República

Procuradoria-Geral da República

Provedor de Justiça

Comissão Nacional dos Direitos Humanos

Embaixada da África do Sul em Maputo

Embaixada da Palestina em Maputo

Excelências,

Genocídio é crime. A Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, de 09 de Dezembro de 1948, ratificada por Moçambique em 1983, define genocídio como actos praticados com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, e todos os Estados Partes desta Convenção têm a obrigação de prevenir e reprimir o genocídio. No entanto, o mundo tem assistido ao primeiro genocídio televisionado da história da humanidade, que está a ser perpetrado pelo Estado de Apartheid de Israel contra o povo Palestino, na Faixa de Gaza. É neste contexto que dirigimos esta carta aberta ao Governo de Moçambique.

Ao longo dos últimos 3 meses, o regime sionista de Israel leva a cabo uma guerra genocida na Faixa de Gaza, matando até ao momento mais de 24 mil pessoas e desalojando quase 90% da população de cerca de 2,3 milhões. Altos dirigentes de Israel vêm afirmando publicamente que “todos os Palestinos são terroristas” e que toda a população, incluindo mulheres e crianças, deve ser “apagada”. Especialistas das Nações Unidas têm alertado para as graves violações de Direitos Humanos e para o genocídio “em construção” que deve ser urgentemente travado. E convêm lembrar que esta ofensiva militar decorre em cima de um sistema de apartheid, colonialismo e ocupação montado por Israel ao longo das últimas oito décadas.

No dia 29 de Dezembro de 2023, o governo da África do Sul solicitou ao Tribunal Internacional de Justiça que instaure um processo contra Israel, acusando-o de cometer genocídio contra o povo Palestino na Faixa de Gaza, e, portanto, de violar as suas obrigações legais no quadro da Convenção do Genocídio. Conforme brilhantemente argumentado pela África do Sul, “os actos e omissões de Israel (…) têm carácter genocida, uma vez que são cometidos com a intenção específica (…) de destruir os Palestinos em Gaza”. Esta corajosa e importante acção da África do Sul é feita num contexto em que a maioria dos governos do Ocidente, como os Estados Unidos e o Reino Unido, branqueiam, legitimam e até apoiam a ofensiva militar de Israel, tornando-se também cúmplices deste vergonhoso genocídio.

A petição apresentada pela África do Sul num documento de 84 páginas é um lembrete que os Estados e a sociedade internacional têm um imperativo moral e legal de se oporem ao genocídio que está sendo perpetrado pelo regime de Israel contra o Povo Palestino. A primeira audiência do caso decorre já nos próximos dias 11 e 12 de Janeiro, em Haia, com transmissão ao vivo, e apelamos a todos os actores sociais a acompanhar e manifestar o seu apoio a este importante caso.

Enquanto indivíduos, organizações e movimentos sociais da sociedade civil Moçambicana, manifestamos o nosso apoio total e incondicional a esta iniciativa da África do Sul, e apelamos ao Governo de Moçambique que se posicione de forma inequívoca e pública em apoio a este caso perante o Tribunal Internacional de Justiça. Apelamos ainda ao nosso Governo para que cesse qualquer relação que tenha com o Estado de Israel, e que efectue as devidas diligências a nível da SADC e da União Africana para que mais Estados Africanos tomem medidas para condenar e repudiar os actos perpetrados por Israel contra o povo Palestino, recordando que os Estatutos da União Africana e a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos afirmam o compromisso de todos os Estados Partes na luta contra o sionismo, o colonialismo e o apartheid. Apoiar o caso submetido pela África do Sul é um acto crucial para defender os nossos valores comuns, como o direito à auto-determinação dos povos e o direito a resistir contra a ocupação e a injustiça nos nossos territórios e a nível global.

Não nos podemos calar perante um genocídio. É hora de intensificarmos a nossa solidariedade com o povo da Palestina, e de pressionar para que se accionem todos os mecanismos legais possíveis de forma a impedir que Israel continue com este genocídio e garantir que seja responsabilizado pelos seus crimes e violações de Direitos Humanos.

Moçambique pode e deve ter um papel activo nesta luta – até que a Palestina seja livre!

Atenciosamente,

As organizações Moçambicanas:

Alternactiva – Acção pela Emancipação Social

Associação Amizade e Solidariedade com a Palestina (ASP)

Associação de Juristas Muçulmanos de Moçambique (AJUM)

Associação Muçulmana de Empresários e Empreendedores Moçambicanos (AMEEM)

Centro de Documentação Samora Machel

Fórum Mulher

Hikone – Associação para o Empoderamento da Mulher

Justiça Ambiental (JA!)

Missão Tabita

Rede para a Integração Social (RISC)

As/os cidadã(o)s:

Abdul Carimo Issá

Aires S. G. Fernandes

Ali Alberto

Amade Camal

Amra Suely Mussá

Anabela Lemos

Angelina Neves

Arlindo Lopes

Boaventura Monjane

Catarina Winnie Garrido

Cerilo Mondlane

Cidia Alcido Chissungo

Daniel Ribeiro

Dipti Bhatnagar

Djamila Andrade

Edgar Barroso

Elisa Santos

Erika Mendes

Euridese Samuel

Hélio João Eusébio

Helton Dias

Ismael Cassamo Lalá Junior

Manuel Chauque

Michelle Mendes

Momade Amade

Naguib Elias Abdula

Olga Muthambe

Paulo Ivo Garrido

Polly Gaster

Regina António

Ricardo Ferreira

Ruth Castel-Branco

Severino Elias Ngoenha

Terezinha da Silva

Vanessa Cabanelas

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