No passado dia 08 de Novembro, a Justiça Ambiental JA! organizou no Kaya Kwanga, um Debate sobre o tema: ‘‘Alternativas Locais para a Crise Climática e Alimentar – Lições e Desafios.’’
O evento reuniu um grupo diversificado de participantes composto por representantes do governo, organizações da sociedade civil, activistas e membros de comunidades rurais e associações comunitárias.
O evento foi dividido em duas sessões, na primeira tratamos de alternativas locais para a actual crise alimentar face aos impactos cada vez mais evidentes da actual crise climática. Mariam Abbas, pesquisadora do Observatório do Meio Rural falou sobre o sector agrário em Moçambique – principais desafios para o desenvolvimento rural no contexto da crise climática, trouxe elementos bastantes que demonstram que a aposta na agricultura industrial não tem contribuído para o alcance da segurança alimentar, os níveis de desnutrição crónica continuam muito elevados.
Ainda no mesmo painel foram discutidas alternativas ou soluções locais para esta crise, Vanessa Cabanelas, da Justiça Ambiental falou das iniciativas da Justiça Ambiental, na promoção de princípios de produção agroecologica e do estabelecimento de machambas comunitárias agroflorestais, tanto como uma ferramenta de fortalecimento comunitário como de produção diversificada e em equilíbrio com a natureza e como forma de construir maior resiliência à crise climática. Uma ferramenta que emerge como um elo vital para fortalecer as comunidades diante da crise climática promovendo práticas agrícolas sustentáveis e resiliência colectiva. A JA! tem estado a promover a expansão da agroecologia e a estabelecer campos comunitários de demonstração de sistemas agroflorestais com associações de mulheres e comunitárias e comunidades locais nas províncias da Zambézia, Gaza e mais recentemente Tete.
Hudson Filho do Viveiro Anaua no Brasil, que tem vindo a colaborar com a Justiça Ambiental desde 2018, falou sobre os sistemas agroflorestais aliado à manutenção dos ecossistemas e da biodiversidade como uma estratégia inovadora que harmoniza a produção de alimentos e a conservação do meio ambiente contribuindo assim para a soberania alimentar. Falou igualmente da urgente necessidade de travar o desmatamento e promover o reflorestamento com espécies nativas, e que os sistemas agroflorestais tem a particularidade de harmonizar a produção de alimentos com qualidade e diversidade e restabelecer o equilibrio ecológico.
Na segunda parte do encontro tivemos a oportunidade de explorar a bioconstrução como uma alternativa essencial para a promoção de práticas sustentáveis na indústria da construção, dando ênfase à utilização de materiais locais e de técnicas amigas do ambiente.
Ana de Carli uma das oradoras deste painel, bioconstrutora brasileira com mais de 20 anos de experiência, partilhou como a bioconstrução pode servir de alternativa de baixo custo e ao mesmo tempo como pode ser usada no contexto de mitigação aos eventos climáticos extremos a nível das comunidade rurais. Ana de Carli, esteve recentemente no distrito de Lugela a convite da JA! para levar a cabo um processo de capacitação dos mestres locais de modo a assegurar casas mais resilientes aos eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes sem no entanto pretender alterar as técnicas locais, mas sim trabalhando para melhorar as mesmas. E por fim Andrade Guarda, bioconstrutor moçambicano, falou sobre as inúmeras possibilidades de construção com materiais locais, que podem ser uma opção muito mais acessível a familias mais pobres mas também e acima de tudo para a redução do impacto ambiental resultante dos processos de produção dos materiais de construção convencionais. Falou ainda dos desafios da bioconstrução no contexto moçambicano, da ainda grande resistência que existe ao uso destes materiais e à crença de que as construções convencionais com base no uso de cimento e ferro são as mais duradouras. Andrade partilhou como tem sido a sua experiência em Moçambique, no trabalho com as comunidades locais concretamente nas províncias de Cabo Delgado, Nampula e Maputo. Andrade fez parte da equipe que esteve no Distrito de Lugela, para uma breve avaliação das habitações e dos motivos que tem levado ao desabamento devido às chuvas e tempestades no Distrito de Lugela, em 4 comunidades onde a JA tem estado a trabalhar. A motivação para esta visita de reconhecimento e momento de capacitação foi exatamente os inumeros casos de casas desabadas todos os anos no periodo chuvoso nestas comunidades.
Ana de Carli e Andrade Guarda, deixaram valiosas dicas, apresentaram de forma clara e com base na sua própria experieência de trabalho, a bioconstrução é uma alternativa viável de construção, com menor impacto ambiental, que promove espaços de vida mais saudáveis e que contribui para um futuro mais resiliente e sustentável.
O encontro foi sem dúvida um excelente momento de reflexão sobre alternativas viáveis, acessíveis e que podem contribuir de facto para uma melhoria da vida das comunidades rurais e de todos nós.
O nosso sonho é que seja o primeiro de muitos momentos de partilha e reflexão sobre estes tão importantes temas, a agroecologia e a bioconstrução.