Hoje, 19 de Dezembro de 2024, recordamos com muita revolta e dor o brutal assassinato de Elvino Dias e Paulo Guambe, ocorrido há 2 meses. Continuamos à espera de respostas e de justiça para Elvino Dias e Paulo Guambe! Quem ordenou o assassinato? Quem puxou o gatilho? Não vamos nos esquecer, não vamos desistir de exigir justiça, mesmo sabendo que a nossa justiça é deficiente, partidária e vergonhosamente lenta!

A nossa revolta e a nossa angústia só tem vindo a aumentar, tal como tem vindo a aumentar o número de moçambicanos assassinados (pelo menos 130 pessoas), feridos, presos e torturados pelas Forças de Defesa e Segurança do Estado. Já são tantos os moçambicanos assassinados por exigir justiça eleitoral e por fazer valer os seus direitos, que agora são números, são 130 pessoas… quem são estes moçambicanos? São tantos, que passamos a referir-nos a eles e a elas apenas por números, mas não são números, são cidadãos moçambicanos que tinham famílias, sonhos e que por estes sonhos foram à rua protestar, pelos seus direitos, pelos nossos direitos e liberdades… Por isso mesmo, não são 130 famílias de luto, estamos todos de luto e nos juntamos a todas estas famílias!

Não há palavras para amenizar a dor de quem perdeu os seus familiares desta forma, não foi acidente, não foi doença, nem tão pouco foi velhice, foram barbaramente assassinados pela polícia que os jurou proteger!

Exigimos justiça, exigimos que sejam devidamente investigados todos estes casos e que sejam exemplarmente punidos todos os envolvidos, desde os autores dos tiros, aos que ordenaram dos seus gabinetes estas matanças, até todos os que têm o poder para parar esta chacina e não o fizeram, sendo por isso cúmplices. Hoje, estas palavras tem outra dimensão… quando exigimos justiça, a nossa exigência tem um destinatário. Mas hoje, não estamos certos de quem é esse destinatário! A quem exigimos esta justiça? Ao Estado? Mas foram as forças de defesa e segurança do Estado que mataram, prenderam e perseguiram manifestantes… À PGR que se mantém no silêncio e só actua em defesa de corruptos e contra os ”partidos da oposição”? Nunca vimos justiça na PGR, por isso custa-nos acreditar que seja possível…

O cenário actual só veio confirmar o que há muitos muitos anos temos vindo a denunciar, tal como tantos outros, o Estado e as suas instituições estão completamente cooptados, completamente partidarizados e servem apenas e somente ao Partido no Poder, que se mantém no poder exactamente através destas instituições do Estado, incluindo as Forças de Defesa e Segurança do Estado, que cumprem ordens ilegais e assassinam cidadãos que se manifestam contra tantas, tão graves e evidentes violações de direitos e abuso de poder.

A actuação do Conselho Constitucional é apenas o último acto deste circo montado, hoje vemos os juízes comportarem-se como actores de telenovela, julgando-se os donos e senhores da verdade, no auge da sua arrogância e prepotência, enquanto todos nós aguardamos ansiosamente destes a decisão sobre o nosso destino… se nos recordarmos do processo de validação das eleições autárquicas de 2023, também carregadas de irregularidades comprovadas e altamente contestadas mas validadas por este mesmo órgão, percebemos que esperar deste orgão a verdade e a justiça pode ser tão provável quanto esperar que os corruptos, já bastante conhecidos, se entreguem de livre e espontânea vontade e devolvam tudo o que pilharam ao longo dos anos ao nosso país. Ou seja, altamente improvável. O nosso maior desejo neste momento, é sem dúvida que o CC nos surpreenda, nos mostre que realmente defendem a verdade e a justiça, para que possamos então reconstruir o nosso país com base nos direitos do povo, centrado na justiça e igualdade para todas e todos!

Até lá, continuaremos a lembrar e a homenagear tantos e todos que por acreditar num país mais justo para todos nós, foram barbaramente assassinados. E assim nos re-erguemos do luto para a luta pelo país que acreditamos ser possível construir juntos!

Até sempre Companheiro Elvino,

Até sempre Companheiro Paulo.

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