A 7 de Abril, celebramos todas as mulheres moçambicanas! Celebramos a força, perseverança, sabedoria e solidariedade das mulheres moçambicanas!

A data foi instituída em homenagem a Josina Machel, heroína nacional, uma das muitas mulheres moçambicanas que lutaram pela independência do nosso país. Mas mesmo estas mulheres, antes de lutarem pela independência do nosso país, tiveram igualmente de lutar pelos direitos das mulheres, pelo direito a lutar, pelo direito a resistir à colonização, pelo direito à sua voz e à participação na política e nas decisões do futuro do nosso país!

Hoje, celebramos estas conquistas. Cientes de que a luta é contínua e ainda temos um longo caminho pela frente até que todas as meninas e mulheres moçambicanas e pelo mundo gozem dos mesmos direitos que os homens, até que a luta pelo reconhecimento e realização dos direitos das mulheres seja a luta de todos!

Recentemente, o Presidente da República esteve em Nova York numa visita de trabalho no âmbito do exercício da presidência rotativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Durante as actividades, encontros e entrevistas mantidas, o Presidente Nyusi referiu alguns pontos relativos ao respeito aos direitos humanos, liberdades e terrorismo, de uma forma bastante questionável devido aos últimos acontecimentos no país. Numa dessas entrevistas foi questionado sobre a possibilidade de uma mulher vir a presidir a República de Moçambique.

Por sermos mulheres e/ou por conhecermos os inúmeros e tão diversos desafios e lutas por que passa diariamente a grande maioria das mulheres moçambicanas, indignamo-nos quando ouvimos a sua resposta: “Nós em Moçambique não temos o problema de mulher não mulher… mulher tem espaço… e por mérito próprio… “

Neste sentido, gostaríamos de ouvir do Sr. Presidente, que espaço têm as mulheres que estão fora do círculo de familiaridade e amizade dos antigos combatentes que ainda se mantém no partido no poder, e que procuram satisfazer os interesses deste grupo político? Obviamente que existirão algumas e raras excepções mas ainda assim, o grosso dos espaços políticos liderados por mulheres em Moçambique continua a seguir uma linhagem de fácil rastreio.

A cada dia crescem as concessões de terra feitas a projectos de plantações florestais, mineiros e outros tantos, e é sobejamente sabido que as mulheres moçambicanas tem sido as mais sacrificadas pela usurpação de terras, perda de acesso a cursos de água, compensações injustas e violência a todos os níveis.

Sr. Presidente que espaço têm as mulheres no distrito de Lugela que viram suas machambas destruídas pela Mozambique Holdings para pôr árvores de borracha? Que espaço têm as mulheres afectadas pela empresa Portucel que reclamam há anos sem ser ouvidas e quando elevam a sua voz ainda correm o risco de ser ameaçadas e caladas? Que espaço têm as mulheres afectadas pela Vale ou pela Vulcan, que são obrigadas a cozinhar comida com poeira para os seus filhos para alguns poucos lucrarem com o carvão? Que espaço têm as mulheres deslocadas de guerra em Cabo Delgado, que para além de perderem suas terras, cedidas à Total, ainda viram os seus familiares sendo brutalmente assassinados e muitas são sexualmente violadas? Que espaço têm as mulheres ameaçadas por Mphanda Nkuwa, que nem sequer podem cantar que não querem esta barragem na sua terra, porque são ameaçadas e acusadas de terroristas?

Que espaço têm as milhares de mulheres moçambicanas grávidas que caminham quilómetros para poder chegar a um posto de saúde, e talvez quem sabe serem devidamente atendidas? Que espaço têm as nossas camponesas que andam quilómetros carregadas de “Xidjumba” para ir vender e trazer alguma coisa para casa? E quando acreditam que chegaram ainda são extorquidas pela nossa “polícia municipal” e assaltadas pelos bandidos que a polícia não consegue controlar porque está ocupada a perseguir cidadãos que cantam “Povo no Poder”? E que espaço têm todas as meninas que são obrigadas a deixar de sonhar, deixar de estudar, deixar de ser criança, pois são usadas como moeda de troca, sendo obrigadas a casar com homens sem escrúpulos que tem idade para ser seus avós, porque não tem protecção e porque ainda somos vistas como um ser inferior? Quantas são as meninas e mulheres moçambicanas que ainda não têm acesso à escola? Quantas foram as meninas e mulheres moçambicanas brutalmente violadas e assassinadas na nossa terra desde o início deste ano apenas?

Muitas mulheres têm conseguido vitórias importantes na luta por igualdade e dignidade, mas a luta continua até que sejamos todas livres! Livres para resistir, livres para marchar e gritar pelos nossos direitos, livres para dar opinião sem temer represálias, livres para escolher o nosso futuro!

A nossa luta continua!

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